A lógica matemática trata do estudo das sentenças declarativas também conhecidas como proposições e tem por objetivo elaborar procedimentos que permitam obter um raciocínio correto na investigação da verdade, distinguindo os argumentos válidos daqueles que não o são.
O filósofo grego Aristóteles (384 - 322 a.C.) iniciou o estudo da lógica, fazendo uma representação do processo do pensamento. No século XIX o matemático inglês George Boole (1815 - 1864), criador da Álgebra Booleana, descreveu operações de lógica e de probabilidades, base da atual aritmética computacional.
Proposição
Proposição - é um conjunto de palavras ou símbolos
que exprime um pensamento de sentido completo, de modo que se possa atribuir, dentro de certo contexto, somente um de dois valores lógicos possíveis: verdadeiro ou falso.
A lógica matemática se assenta em dois princípios fundamentais: Princípio da não contradição: Uma proposição não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo
tempo; Princípio do terceiro excluído: Toda proposição ou é verdadeira ou falsa, excluindo-se
qualquer outro valor.
Somente às sentenças declarativas pode-se atribuir valores de verdadeiro ou falso, que ocorre
quando a sentença é confirmada ou negada, respectivamente.
Não se pode atribuir um valor de verdadeiro ou falso às demais formas de sentenças como as
interrogativas, as exclamativas e outras, embora elas também expressem pensamentos ou juízos.
As proposições classificam-se em simples ou atômicas e compostas ou moleculares.
Proposição simples — É um pensamento singular sem integrar qualquer outra proposição.
Exemplos:
Antônio é estudante.
José é solteiro.
Proposição composta — É formada pela combinação de duas ou mais proposições simples. Exemplos:
Maria é professora e Pedro é mecânico.
Se o carro é novo, então está em boa condição de uso.
As proposições simples são geralmente
designadas pelas letras minúsculas
p, q, r, s, ...
e as compostas pelas letras maiúsculas
P, Q, R, S, ...
Conectivos e valores lógicos
Conectivos:
(Termos usados para formar novas proposições a partir de outras existentes.)
"e", "ou", "não", "se... então... ", "se e somente se ..."
Valores lógicos das proposições:
Verdade (V) e Falsidade (F).
Tabelas verdade
A Tabela verdade é um instrumento usado para determinar os valores lógicos das proposições compostas, a partir de atribuições de todos os possíveis valores lógicos das proposições simples componentes.
A primeira das tabelas abaixo apresenta duas proposições simples: p e q e a segunda, três proposições simples: p, q e r. As células de ambas as tabelas são preenchidas com valores lógicos V e F, de modo a esgotar todas as possíveis combinações. O número de linhas da tabela pode ser previsto efetuando o cálculo: 2 elevado ao número de proposições simples. Nos exemplos abaixo tem-se 22 = 4 linhas e 23 = 8 linhas.
p
q
V
V
V
F
F
V
F
F
p
q
r
V
V
V
V
V
F
V
F
V
V
F
F
F
V
V
F
V
F
F
F
V
F
F
F
Valor lógico da proposição
Notação: O valor lógico de uma proposição simples indica-se por V(p) e composta por V(P) (letra maiúscula).
Exemplos de proposições simples:
p : um triângulo têm três lados.
q : Blumenau é um país.
V(p) = V V(q) = F (Lê-se valor lógico de p é igual a V (verdadeiro) e de q é igual a F (falso))
Exemplo de proposição composta:
p : o sol é uma estrela ou
q : a terra é uma estrela.
P(p,q) = p v q V(P) = V (O símbolo "v" representa o conectivo "ou" visto abaixo)
Operações lógicas
Os valores lógicos das proposições são definidos pelas tabelas descritas em cada operação a seguir.
Negação (~) "~p" lê-se "não p".
Exemplo:
p : Joana é bonita
~p : Joana não é bonita
ou
~p : Não é verdade que Joana é bonita
ou
~p : É falso que Joana é bonita
p
~p
V
F
F
V
Conjunção (^)
"p ^ q" lê-se "p e q".
Exemplo:
p : A neve é branca (V)
q : 2 < 5 (V)
p ^ q : A neve é branca e 2 < 5 (V)
Representação:
V(p ^ q) = V(p) ^ V(q) = V ^ V = V
Leitura:
p
q
p ^ q
V
V
V
V
F
F
F
V
F
F
F
F
Valor lógico de (p e q) é igual a ou, de outro modo, valor lógico de (p) e valor lógico de(q) é igual a ou resulta em verdade e verdade que é igual a verdade.
Disjunção (v) "p v q" lê-se "p ou q".
Exemplo:
p : Blumenau é a capital de SC (F)
q : 5/7 é uma fração própria (V)
p v q : Blumenau é a capital de SC ou 5/7 é uma fração própria (V)
V(p v q) = V(p) v V(q) = F v V = V
p
q
p v q
V
V
V
V
F
V
F
V
V
F
F
F
Disjunção exclusiva (v) "p v q" lê-se "ou p ou q", mas não ambos ou ainda "ou exclusivo".
p
q
p v q
V
V
F
V
F
V
F
V
V
F
F
F
O valor lógico é Falso(F)
quando p e q são ambas
verdadeiras ou ambas falsas.
Exemplo:
P : Carlos é médico ou professor
Q : Antônio é catarinense ou gaúcho.
Na proposição composta P pelo menos uma das proposições simples é verdadeira, podendo ser ambas verdadeiras. ("ou" inclusivo).
Na proposição composta Q apenas uma das proposições é verdadeira. ("ou" exclusivo).
Condicional (—>) "p —> q" lê-se "se p então q" ("—>" símbolo de implicação).
p
q
p —> q
V
V
V
V
F
F
F
V
V
F
F
V
O valor lógico é Falso(F) no caso
em que p é verdadeira e q é falsa.
Exemplo:
p : A terra é uma estrela (F)
q : O ano tem nove meses (F)
p —> q : Se a terra é uma estrela, então o ano tem nove meses (V)
V(p —> q) = V(p) —> V(q) = F —> F = V
Bicondicional (<—>) "p <—> q" lê-se "p se e somente se q".
p
q
p <–> q
V
V
V
V
F
F
F
V
F
F
F
V
Uma bicondicional é verdadeira somente quando ambas proposições são verdadeiras ou ambas falsas.
(p é condição necessária e suficiente para q ou q é condição necessária e suficiente para p).
Exemplo:
p : A terra é plana (F)
q : 10 é um número primo (F)
p <—> q : A terra é plana se e somente se 10 for um número primo (V)
V(p <—> q) = V(p) <—> V(q) = F <—> F = V
Construção de tabelas verdade
a) Construir a tabela verdade da seguinte proposição: P(p,q) = ~(p ^ ~q). Solução:
p
q
~q
p ^ ~q
~(p ^ ~q)
V
V
F
F
V
V
F
V
V
F
F
V
F
F
V
F
F
V
F
V
Procedimento:
Para determinar os valores lógicos de uma proposição composta, deve-se antes relacionar em colunas as proposições simples envolvidas e dar a elas todos os valores lógicos combinados, podendo seguir a ordem na qual se começa estabelecendo na primeira linha o valor lógico Verdade para todas as variáveis, na segunda linha repete-se os valores, exceto para coluna mais a direita que recebe o valor lógico F e, assim, seguir alternando os valores até especificar na última linha o valor F para todas as proposições simples.
No exemplo acima, inicialmente, foram colunadas as proposições simples p e q e determinados todos os valores lógicos. Em seguida, foi criada a próxima coluna ~q e definidos seus valores, aplicando a operação de negação ou inversão com base nos valores da coluna q. O passo seguinte foi abrir a coluna p ^ ~q e determinar seus valores, efetuando a operação de conjunção considerando os valores das colunas p e ~q. No próximo e último passo criou-se a coluna ~(p ^ ~q) e estabelecidos seus valores, negando ou invertendo o conteúdo da coluna anterior.
Formas de indicar o resultado da proposição composta da tabela acima:
P(VV) = V, P(VF) = F, P(FV) = V, P(FF) = V
ou P(VV, VF, FV, FF) = VFVV
b) Construir a tabela verdade da proposição: P(p,q,r) = p v ~r —> q ^ ~r. Solução:
p
q
r
~r
p v ~r
q ^ ~r
p v ~r —> q ^ ~r
V
V
V
V
V
F
F
V
V
F
V
V
V
V
V
F
V
F
V
F
F
V
F
F
V
V
F
F
F
V
V
F
F
F
V
F
V
F
V
V
V
V
F
F
V
F
F
F
V
F
F
F
V
V
F
F
A tabela verdade desenvolvida acima precisou de oito linhas (23)
para dispor todos seus valores lógicos, uma vez que a proposição composta envolve tres proposições simples: p, q e r.
Ordem de precedência dos conectivos:
A precedência é o critério que especifica a ordem de avaliação dos conectivos ou operadores lógicos de uma expressão qualquer. A lógica matemática prioriza as operações de acordo com a ordem listadas abaixo.
1) ~ 2) ^ e v 3) —> 4) <—>.
Parênteses podem ser utilizados para determinar uma forma específica de avaliação de uma proposição.
A proposição p —> q <—> s ^ r, por exemplo, é bicondicional e nunca uma condicional ou uma conjunção.
Para convertê-la numa condicional deve-se usar parênteses:
p —> (q <—> s ^ r).
Tautologia, contradição e contingência
Tautologia - proposição composta cuja última coluna de sua tabela verdade encerra somente a letra V(verdade). Exemplo: p v ~(p ^ q).
Contradição - proposição composta cuja última coluna de sua tabela verdade encerra somente a letra F(falsidade). Exemplo: (p ^ q) ^ ~(p v q).
Contingência - proposição composta cuja última coluna de sua tabela verdade figuram as letras V e F cada uma pelo menos uma vez. Exemplo: p v q —> p.
Equivalência
Uma proposição P(p, q, r, ...) é equivalente a uma proposição Q(p, q, r, ...) se as tabelas verdade dessas duas proposições são idênticas.
Notação: P(p, q, r, ...) <==> Q(p, q, r, ...).
Exemplo: A condicional "p —> q" e a disjunção "~p v q" são equivalentes como expõe sua tabela verdade:
p
q
p —> q
~p
~p v q
V
V
V
F
V
V
F
F
F
F
F
V
V
V
V
F
F
V
V
V
Equivalência: p—> q <==> ~p v q
Proposições associadas a uma condicional
Proposição recíproca de
p —> q : q —> p
Proposição contrária de
p —> q : ~p —> ~q
Proposição contrapositiva de
p —> q : ~q —> ~p
p
q
p —> q
q —> p
~p —> ~q
~q —> ~p
V
V
V
V
V
V
V
F
F
V
V
F
F
V
V
F
F
V
F
F
V
V
V
V
Equivalências: p —> q <==> ~q —> ~p e q —> p <==> ~p —> ~q
A condicional (p —> q) é equivalente a sua contrapositiva (~q —> ~p) e a recíproca da condicional (q —> p) é equivalente à contrária da condicional (~p —> ~q).
Recíproca da condicional
Exemplo:
p —> q : Se triângulo é eqüilátero, então é isósceles.
A recíproca da condicional é
q —> p : Se triângulo é isósceles, então é eqüilátero.
(A condicional p —> q é verdadeira (V), mas sua recíproca q –> p é falsa (F)).
Contrapositiva da condicional
Exemplos:
p —> q : Se Carlos é professor, então é pobre.
A contrapositiva é
~q —> ~p : Se Carlos não é pobre, então não é professor.